O povo brasileiro fica indignado nas redes sociais quando alguém é punido, mesmo de forma correta e dentro da lei, por ter praticado um crime considerado pequeno. Em um país cheio de políticos corruptos intocáveis, que respondem a processos por desviar bilhões de reais que poderiam ser empregados na saúde, educação e infraestrutura, ir para a cadeia por furtar um desodorante ou carne no supermercado é impensável.
O caso mais recente da indignação on-line envolve um bombom. Uma faxineira responde a inquérito policial por ter comido a guloseima, no último dia 30 de setembro, que estava em uma caixa na sala do corregedor da Polícia Federal em Roraima. A ação foi filmada e ela precisou prestar depoimento em inquérito. Tudo dentro da lei.
Como sempre acontece nas redes sociais, o episódio ganhou uma repercussão monstruosa. De vítima de um furto considerado insignificante pela Justiça, o delegado passou a ser vilão, sendo atacado de todas as maneiras e com todos os adjetivos ruins que se possa imaginar. Seu nome passou a ser divulgado, junto com sua foto, como se fosse um bandido perigoso. E ele só fez o seu trabalho...
Recebendo apoio até da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a faxineira, agora uma “vítima injustiçada por alguém de classe social superior”, segundo brada grande parte dos internautas, pergunta: "
Que burrada que eu fiz?". E se diz preocupada com sua imagem e seu nome.
Deveria mesmo. O trabalho de faxineira, doméstica ou diarista precisa de algo muito importante: confiança. E esses profissionais sabem disso. Ninguém, geralmente, aceita contratar uma pessoa que tenha o costume de pegar qualquer objeto de sua casa ou comer algo sem autorização. E a moça que trabalhava na corregedoria da Polícia Federal deveria saber disso antes de fazer algo “sem pensar”, como alegou.
Ela praticou um crime, sim, ao pegar o bombom sem autorização. E foi repreendida devidamente, como manda a lei e em uma instituição criada para punir quem está errado. Fazer campanha na internet para ajudar alguém que pratica um crime, mesmo insignificante aos olhos da Justiça, é ensinar para as crianças que podem comer o que quiserem na casa de estranhos sem precisar pedir, ou mesmo pegar pequenos objetos sem qualquer problema. Se alguém repreendê-los, estará errado.
Você contrataria algum profissional que tivesse o costume de comer guloseimas em sua casa sem autorização? Geralmente, não. A maioria das pessoas é exigente com quem tem acesso à sua família. Mas, em resposta a enquete feita pelo jornal
Folha da Região, de Araçatuba (SP), os usuários do Facebook disseram justamente o contrário: que contratariam, sim, sem qualquer problema.
O estranho é que no resultado da enquete do jornal em seu portal, onde a foto e nome da pessoa não aparecem, 73% marcaram a opção que “não contratariam” uma profissional assim.
Minimizar crimes pequenos é abrir as portas para quem quer se aventurar em coisas grandes. A educação vem de berço e deveria ser defendida da mesma forma nas redes sociais, em qualquer situação. Pobreza não é desculpa para furtar, nem sequer uma agulha. Defender isso é desprezar quem batalha honestamente para ganhar o seu pão.
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