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Os sabe-tudo e os humoristas anônimos da internet

O professor Pasquale Cipro Neto, um especialista da língua portuguesa e excelente escritor, usou sua coluna semanal, publicada em vários jornais do País, para avaliar a "polêmica" fala do apresentador Tiago Leifert no "Globo Esporte", da TV Globo. O rapaz mostrou uma reportagem sobre doping no ciclismo e, no fim, afirmou: "Agora vamos falar de esporte de verdade".

É óbvio que ele não é idiota de dizer que ciclismo não é esporte de verdade. Disse que esporte com doping não é de verdade. Mas a falta de interpretação tradicional do brasileiro e a gana de atacar logo transformou isso em artilharia contra o jornalista. Aliás, outra coisa tradicional na internet: atacar as pessoas com muito ódio gratuito.

Pasquale, em suas sábias palavras, encerrou seu texto (leia aqui na íntegra) com uma afirmação extraordinária:

"O que ocorreu no episódio Leifert/ciclismo acontece milhões de vezes por dia na internet e nas tais "redes sociais". Muitos dos comentários a respeito de um sem-número de textos e declarações constituem a mais pura demonstração de incapacidade de ler, de relacionar, de contextualizar. Haja paciência!"

Haja paciência, mesmo!!! Já fui vítima desta demonstração de incapacidade de ler e interpretar corretamente um texto ao escrever sobre Deus aqui no blog. É incrível como algumas pessoas conseguem enxergar apenas o que interessa e deixam a religião cegá-las.

Junte tudo isso aos sabe-tudo da internet. São pessoas especialistas em julgar a tudo e a todos, e principalmente condenar. Qualquer pessoa está sujeita a erro, mas poucos lembram do próprio rabo. Nos comentários em sites e principalmente no Facebook, apontam logo o dedo e chamam de "lixo", "bandido", "assassino", acabam com a vida dos outros com tanta raiva, mesmo sem conhecer o acusado ou dar a chance de ouvir o outro lado.

Não, o Facebook não é só seu e xingar muito nele pode até dar multa.

Nem a imprensa escapa dos sabe-tudo, que se acham jornalistas, professores, advogados... Na tragédia da boate Kiss, no Rio Grande do Sul, um montão de comentários acusava a mídia de sensacionalista por cobrir o caso o dia todo. Mas estavam lá nos portais, consumindo; ligando a TV e assistindo; abrindo os jornais e lendo...

São as mesmas pessoas que correm para a rua após ouvir uma freada brusca, achando que verão corpos ensanguentados e tripas no asfalto. São as mesmas que acessam um portal de notícia com veemência ao ler qualquer coisa que tenha sangue no título. Depois, ficam arrotando hipocrisia, dando lição de moral. Quem é mesmo sensacionalista?

Se a imprensa cobre um fato com esta tragédia da forma que faz, é porque a população exige isso, consome assim há anos, e continuará desta forma. Estes hipócritas são, em muitos casos, os mesmos que criticam o Big Brother, da TV Globo, ficam fazendo campanha contra no Facebook e depois correm para assistir quem está no paredão... E a audiência do programa é excepcional.

Para piorar, surgem entre os sabe-tudo os humoristas anônimos da internet. Criam páginas no Facebook para atacar todo mundo em nome do "humor" e da "democracia". Usam fotos de pessoas de carne e osso no perfil, como o irresponsável detido em Santos, que ficou famoso às custas do constrangimento alheio.

Estes "humoristas anônimos" que atacam as pessoas são a pior escória da internet. Não têm coragem de aparecer e são encorajados por muitos irresponsáveis, que adoram "curtir" e consumir este tipo de coisa - até, é claro, ser a próxima vítima deles. Mas se uma entidade filantrópica criar uma fan page e pedir para as pessoas ajudarem, conte nos dedos quem vai compartilhar alguma coisa...

Acho que o professor Pasquale resume melhor estes comportamentos:

"É por essas e outras que quase sempre ficamos lá embaixo nos certames internacionais de leitura e compreensão de texto. Não sabemos ler, porque não sabemos pensar. Pensamos mal; pensamos torto".

Uma dica para os sabe-tudo e “humoristas” anônimos: ajudem alguém de verdade ou tomem alguma providência concreta para resolver problemas de sua cidade e do País.

Reclamar ou se esconder atrás de um monitor de computador é fácil...


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