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Blogueiro é escritor, e pode ser imortal também


Ao fim da primeira década do ano 2000, muita coisa mudou no comportamento do ser humano. A internet já faz parte de nossas vidas e é o meio independente em que qualquer pessoa pode se expressar, sendo lido em todos os lugares Planeta com acesso à rede mundial de computadores.

Um exemplo disso é o lançamento da semana no Brasil: o iPad. É um computador do tamanho de um livro normal. E é deste tamanho justamente para que as pessoas possam ler em qualquer lugar, com centenas de livros digitalizados em sua memória. E ao mesmo tempo acessar a internet para comprar outros, guardar fotos, ver vídeos, acessar redes sociais...

Houve um tempo em que saber ler era um privilégio de poucos, apenas da elite. E ter mapas, então, era algo do outro mundo, guardado a sete chaves. Hoje, você tem mapas no celular. E pode escrever nele também e enviar para seu Twitter, Facebook ou blog. Simples demais. Instantâneo demais!

O blog, aliás, é a modernização dos livros. Em vez de escrever alguma coisa e colocar no papel, pagar uma boa grana para ser impresso e ainda torcer para que as pessoas comprem, você pode simplesmente ter uma página virtual atualizada todos os dias, e ainda com espaço para receber críticas e comentários.

E, a menos que seja um Paulo Coelho da vida, cujos livros são lidos em todas as partes do Planeta, duvido muito que seu livro tenha mais leitura desde o lançamento do que um bom blog diariamente.

Blogueiro também é escritor. E assim como qualquer escritor de livro impresso, pode sim ocupar uma cadeira em qualquer academia de letras do País, tornando-se também um "imortal". Escritor é escritor em qualquer mídia.

É claro que estou falando de escritores de verdade e não de blogueiros que postam qualquer coisa em seu espaço virtual. Assim como existem escritores de coisas banais, também existem blogueiros banais.

Pensando desta forma, iniciamos uma discussão no Blog do Consa, ex-presidente da AAL (Academia Araçatubense de Letras) e atual secretário de Cultura de Araçatuba. Foi o Consa que abriu espaço para a criação da Cia dos Blogueiros, com quase 200 membros em Araçatuba, região e muitas partes do País.

Por que um blogueiro escritor não pode fazer parte da elite da literatura araçatubense? Se ele tem todos os adjetivos necessários, o que o impede? Qualquer estatuto pode ser mudando, dependendo da boa vontade de seus membros.

A AAL tem uma nova presidenta. É a sra. Cidinha Baracat, muito conceituada e respeitada entre os acadêmicos de nossa cidade. Em sua primeira entrevista ao assumir o cargo, disse que gostaria de fazer a entidade se aproximar mais das comunidades.

Então, esta é uma oportunidade de a Cidinha fazer história. Por que não tentar fazer com que os blogueiros se aproximem da AAL, inicialmente como um grupo parceiro, por exemplo, e futuramente incluí-los como candidatos a uma cadeira de "imortal"?

O próprio secretário Hélio Consolaro se diz favorável, mas acredita ser difícil mudar a visão do grupo, que é muito tradicionalista.

Na discussão que iniciamos em seu blog, ganhamos o apoio público de uma das acadêmicas: a jornalista Cecília Ferreira. Foram dela as críticas mais severas ao grupo para que modernize sua visão da literatura em um segundo post no Blog do Consa a respeito do tema, reproduzindo a opinião da professora Heloísa Buarque de Hollanda.

Em artigo publicado pela revista Palavra (Sesc, junho de 2010), Heloísa diz:

"Por todos os vieses, torna-se mais ou menos evidente que a poesia não mais se confina ao formato tradicional do que se convencionou chamar de poesia. Um rápido exame da produção poética atual vai verificar que todos os novos poetas têm seus blogs como mesa de trabalho"

Ela, que é professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (Fórum de Ciência e Cultura / UFRJ), diretora do Instituto Projetos e Pesquisa e da Aeroplano Eitora, bem como curadora do Portal Literal, vai mais longe:

"Nesse quadro, a palavra avança segura, interagindo com novas linguagens e interlocutores e logo se expande em diferentes práticas literárias, remixando linguagens, gêneros e suportes. É a palavra rimada, a poesia na prosa, na dicção cotidiana, a prosa na música, a qualidade indiscutível das novelas gráficas, a palavra agilizada no dialeto dos blogs, orkuts, e-mails, palavra pirateada, hackeada, explorando as novas possibilidades tecnológicas dos iPods e podcasts, buscando a expressão visual, as formas dramatizadas, trabalhando fronteiras imprecisas. expandindo seu potencial de arte púbica. Apontando no horizonte, podemos ver ainda os primeiros sinais de uma nova literatura transmídia"

A acadêmica Cecília Ferreira tem sua visão a respeito:
"É importante, para a juventude física e mental do ser humano de outra geração, estar aberto aos novos rumos das Letras que, atualmente, demonstram prescindir, não do seu papel, mas do papel celulose. A escrita está cada vez mais acessível, o que não significa que escritores de gênio não se encontrem nessas camadas! Sou pela atualização de todas as mentes, portanto pela inclusão, no espaço acadêmico, de todos os "bons" autores de todas as mídias que possam ser escritas. Sou também pela ampliação do quadro de integrantes da AAL. Araçatuba cresce, o mundo evolui, por que não a AAL?"

E Cecília, sabiamente, orienta o grupo:
A evolução não se barra. Você pode ficar para trás e ser levado pelas águas do dique que rompeu, ou subir num barquinho improvisado e remar no sentido da maré para tentar estar no topo da marola dianteira. Esperneie quem espernear, afogue quem se afogar, nada mudará diante do ímpeto dos adventos humanos impostos pelo mundo, ontem, hoje, em qualquer tempo. Ou a AAL se ajusta, ou se mumifica submersa no lodo de suas vaidades

É importante destacar outras opiniões neste post.

José Hamilton Brito, blogueiro e membro do Grupo Experimental da própria academia:
Culpa da internet... talvez. E antes dela também não foi assim, nova linguagem, novos estilos como resultado da transformação e evolução do ser humano? A internet, ao meu ver, é o meio de hoje em dia como a Remington foi de ontem. E é bom que seja assim...

André Bernardes, blogueiro e representante das mídias livres no Conselho Municipal de Políticas Culturais de Araçatuba:
"Salvo as devidas proporções, na minha humilde opinião, acho que os blogueiros deveriam ter um 'espaço' na AAL. Logicamente que não uma "cadeira", pois como sempre digo: sentamos no trono da nossa imaginação".

No primeiro post do Consa, tivemos ainda um comentário assinado por "InfoWebMais":
Embora esteja bem distante de Araçatuba, penso que incluir blogueiros em uma Academia de Letras seria viável se fossem exigidos certos requisitos (tempo de escrita, conjunto da obra e outros referencias de reconhecimento). O caso de jornalistas blogueiros é apenas um viés da questão. Mas acontece que nem todo blogueiro é necessariamente um escritor, assim como nem todo escritor é necessariamente blogueiro. Muita gente confunde isso. A blogosfera permite um leque muito vasto de atuações, mas se transpormos para o universo da literatura todo o conjunto da obra de um blogueiro provavelmente não indicará que ele será sucesso. Não acho que numa academia devamos utilizar critérios similares como os usados pelo TRE quando deferiu uma candidatura como a do palhaço Tiririca ou o critério usado pelos eleitores do mesmo. A comparação pode não soar boa, mas dá uma panorâmica do que penso...

Tivemos ainda um comentário anônimo contrário. Mas anônimo não significa nada. Quem quer ser ouvido, que levante a mão e se identifique.

ENCONTRO DE ESCRITORES INDEPENDENTES
O reconhecimento de blogueiros como escritores será um dos temas debatidos no 1º Enesiar (Encontro de Escritores Independentes de Araçatuba e Região).

O evento que será realizado no próximo dia 18, sábado, no Senac, na avenida João Arruda Brasil, 500, em Araçatuba. É gratuito e você pode fazer sua inscrição no blog oficial da entidade.

O evento é promovido pelo coordenador da UBE (União Brasileira de Escritores) em Araçatuba e Região, Antonio Luceni, ex-diretor de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura.

Veja sua opinião sobre o tema:
Também acho que deveríamos (e já tarde) incluir esse novo nicho de escrita. Afinal, o que vale a discussão não é o suporte (ao menos não o mais importante) mas o conteúdo. Portanto, se escrever literatura virtual ou impresso é o que importa, poderíamos agregar valor ao trazer os blogueiros.

Também vou participar do encontro e fui convidado pelo Luceni para discutir o tema com outros convidados durante o evento.

Outro participante será Eduardo Moreira, membro da Cia dos Blogueiros e um dos especialistas em tecnologia mais lidos de Araçatuba. Ele escreveu em seu blog sobre o encontro:

Há uma certa “resistência” de alguns veículos de mídia e/ou escritores ditos “letrados” em relação às mídias independentes. Blogs, revistas e jornais independentes acabam tendo uma análise com menor prestígio e critério do seu conteúdo, apenas pelo fato das plataformas serem livres, ou não seguirem necessariamente uma linha editorial pré-definida.

CONCLUSÃO
É muito difícil mudar a mentalidade tradicional das pessoas, mas não custa tentar. Se não for agora, será mais tarde, porque os meninos de hoje, acostumados com redes sociais e blogs desde o nascimento, serão os futuros imortais da entidade.

A AAL pode ser a primeira a ver isso e dar um passo importante - e histórico - na sua visão da literatura. Seria um modelo para o restante do País seguir.

Aliás, a AAL tem um blog, mas está vazio. Se decidir utilizar o espaço para divulgar textos dos acadêmicos, faço aqui um convite oficial, como coordenador da entidade virtual, para que os acadêmicos façam parte da Cia dos Blogueiros. Afinal, aceitamos todos os blogueiros que façam um bom trabalho, sem distinção.


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