O velho no cemitério

Depoimento da dona de casa Rosana Lúcia Pina

Bem antes de o meu avô falecer - em 1997 -, ele já havia comprado o próprio túmulo no cemitério do Rosele, em Araçatuba. Ele contratou meu marido e meu sogro para reformá-lo e pintá-lo. Então, fui fazer companhia a eles.

Enquanto trabalhavam, fui dar uma volta, observar os túmulos. Encontrei uma senhora que trabalha lavando e limpando as covas. Sentamos em uma delas e ficamos conversando. Perguntei se não tinha medo. Ela me respondeu que já estava acostumada.

Bem distante, vi um senhor carpindo em volta de um túmulo de terra. Fiquei algum tempo olhando. Era um túmulo bem antigo, ao lado do muro do cemitério.

Decidi ir lá falar com ele também. Era um senhor bem velhinho. Então, puxei conversa:

- Como aqui cresce mato, né!

Ele me respondeu:

- Estes túmulos estão abandonados. É uma judiação porque vão se acabando. As famílias esquecem. E não é bem assim: morreu, acabou!

Conversamos mais uns dois minutos e voltei para perto de onde meu marido e sogro trabalhavam. Quando olhei para trás, cadê o senhor?

Voltei a conversar com a moça que lavava túmulos e perguntei a ela:

- Cadê o senhor que estava carpindo aquele túmulo ali de cima? Ele começou e parou!

- Que senhor? Eu vi você parada ao lado de um túmulo, mas não havia mais ninguém.

Fiquei intrigada. Voltei ao túmulo. Quando olho para a foto que estava lá, era a do senhor que estava carpindo e havia acabado de conversar comigo. Nossa, me arrepio ao lembrar. Ele limpava o próprio túmulo! E tinha morrido havia muitos anos.

Em tempo: depois de gravar este depoimento, eu e a Rosana voltamos ao cemitério e visitamos o túmulo. Não encontramos foto, apenas uma velha cruz caída ao lado, sem identificação alguma. Ela ficou mais intrigada ainda e jurava que havia visto a foto do senhor.

Procurei a administração do cemitério. Descobri que está enterrado lá um senhor que morreu no fim da década de 80, com 77 anos de idade.